Juntamente com o falso-plátano ou bordo (Acer pseudoplatanus) o bordo-de-Montpellier ou zêlha é uma das duas espécies nativas de Acer do nosso país.
Ainda que muito distinto da espécie Acer campestre (não nativa), alguns indivíduos de zêlha podem apresentar alguma variabilidade das folhas, as quais podem exibir cinco lóbulos (2 bem mais pequenos), o que já fez com que A. campestretenha sido apontada como espécie do nosso território.
Trata-se de uma pequena árvore caducifólia que em geral não ultrapassa os 8 m de altura (ainda que possa em alguns casos atingir os 15 m), apresentando uma “casca” acinzentada e escamosa que se desprende em placas na idade adulta. As suas folhas palmatinérveas, são simples, em geral com 3 lóbulos (tal como referido por vezes, raramente, pode apresentar 5 lóbulos), de margem inteira (por vezes com poucos dentes) e com um pecíolo que pode chegar aos 7 centímetros.
O fruto caracteristicamente é uma dissâmara (ou seja, um fruto seco, indeiscente, monospérmico , em “duplicado”, com os frutos secos ligados entre si, daí o prefixo “di”) e com duas “asas” membranosas (cada uma correspondente a um fruto e uma semente) que favorecem a sua dispersão. Popularmente estes frutos costumam ser designados “helicópteros”.
Tal como noutras espécies deste género, as que ocorrem na Península Ibérica são polígamas, isto é, no mesmo indivíduo (no mesmo pé) apresentam flores femininas, flores masculinas e flores hermafroditas (com os dois sexos).
Esta espécie é característica da região submediterrânica ou subatlântica (estendendo-se de Marrocos até à Turquia e Líbano, passando por Portugal, Espanha, França e Alemanha) onde cresce com outras folhosas em solos preferentemente calcários, ainda que também possa crescer em solos ácidos. Consegue viver em solos pobres e tolerar períodos de seca, sendo uma das poucas espécies deste género que aprecia, na fase adulta, a luz directa do sol.
O nome Acer, já utilizado por Plínio – O Velho (23-79 DC), foi escolhido por Lineu para designar este género de árvores e provem do latim “acer” significando agudo, aguçado, numa alusão aos ápices dos lóbulos das folhas ou à dureza da sua madeira que, supostamente, se usaria para fabricar lanças. Quanto ao restritivo específico “monspessulanum” é uma clara alusão à região de Montpellier, da qual Lineu recebeu (ou colectou) os espécimes que estudou desta espécie.
Muito apreciada para produzir “bonsai” devido às suas folhas de pequeno tamanho, a sua madeira dura e densa foi muito apreciada em carpintaria empregando-se ainda em regiões de Espanha (Córdova, por exemplo) para produção de utensílios de cozinha.
Gregos e Romanos consideravam esta espécie (bem como outras) “árvores fatais” pelo facto das suas folhas se tornarem “cor de sangue” (vermelhas) no Outono.
Ainda que em Portugal não lhe sejam reconhecidas propriedades etnobotânicas, existem referências à utilização do ritidoma (“casca”) na produção de um corante violeta (Irão) ou no tratamento da fadiga e dor dos pés, para o qual se utiliza uma decocção da casca à qual se adiciona folhas de freixo (Irão). Já na Albânia a decocção das suas folhas é usada como anti-helmíntico (vermífugo).
Texto: Rubim Almeida* | Foto: Marta Pinto
Bibliografia:
Linnaei, C. 1753. Species plantarum :exhibentes plantas rite cognitas, ad genera relatas, cum differentiis specificis, nominibus trivialibus, synonymis selectis, locis natalibus, secundum systema sexuale digestas. Impensis Laurentii Salvii, Holmiae. Vol. 2. Pag. 1056 (DOI http://dx.doi.org/10.5962/bhl.title.669 em 17/12/2014)
Mosaddegh, M., Naghibi, F., Moazzeni, H., Pirani, A. & Esmaeili, S. 2012. Ethnobotanical survey of herbal remedies traditionally used in Kohghiluyeh va Boyer Ahmad province of Iran. Journal of Ethnopharmacology 141: 80– 95.