O pinheiro-manso (Pinus pinea) é uma daquelas árvores que raro será o português que não consegue identificar. Com uma copa inconfundível, mesmo não sendo uma espécie demasiado comum no Norte do país, quase todos a conhecem, quanto mais não seja pelas suas sementes – os pinhões – tão apreciadas.

Considerada como uma “arqueófita” – termo científico designando uma espécie que terá sido introduzida em tempos pré-históricos – a verdade é que sendo uma espécie característica da bacia do Mediterrâneo, extremamente comum no Sul de Espanha, não custa imaginar que a sua área de distribuição natural se estendesse (ao menos ao Sul) de Portugal, tal como parecem demonstrar alguns estudos. Autores há que apontam muitas das populações ibéricas como sendo as únicas naturais, já que não se encontram ao longo das rotas comerciais da antiguidade.
Pode ser encontrado ao longo de todo o Mar Mediterrâneo, em altitudes que variam desde o nível do mar até aos 1200 metros, chegando da Península ibérica à Turquia e ao Líbano. Em Portugal é na Península de Setúbal onde surgem os exemplares de maiores dimensões, ocupando aquele que é o seu habitat preferencial: as areias e dunas das regiões costeiras, onde funcionam como excelentes fixadoras desses substratos. Trata-se portanto de uma espécie de regiões arenosas costeiras, húmidas e de solos bem drenados e de pouca variação térmica. É muito sensível a perturbações ambientais e de regeneração difícil.
Pode ser descrita como uma árvore de 12-25 (35) m, de troco em geral curto e algo sinuoso. A sua copa é distintiva, globosa quando jovem, tornando-se abobadada em forma de “guarda-sol” na maturidade. O seu ritidoma (casca) é espesso, acinzentado e muito gretado. As folhas, de 10-15(20) x 0,1-0,15 cm, apresentam-se em grupos de 2, de cor verde intensa e mais ou menos flexíveis. As estruturas reprodutoras – estróbilos (vulgo pinhas) – apresentam-se solitárias, em grupos de duas ou até de três, 8-15×7-10 cm, apresentando duas sementes (pinhões) por escama.
Crê-se que seja uma das espécies mais modernas e evoluídas do género Pinus, sendo datada do Plioceno. O seu maior aproveitamento é a produção do pinhão (tenha em atenção que muito do pinhão que hoje se vende no nosso país, não o é na realidade. Trata-se de sementes de muitíssima inferior qualidade de outras gimnospérmicas, provenientes sobretudo de locais como a China e o Paquistão).
Vendido como “fruto seco” (tenha em atenção que se trata de uma semente e que aquela designação é apenas comercial), foi em 2013 o segundo mais exportado, depois da castanha, no nosso país. 95% da produção nacional é exportada para países como a Espanha e a Itália. Curiosamente, a Espanha compra a produção nacional ainda com casca e depois de a retirar vende o chamado “miolo de pinhão” como sendo produto de origem espanhola. Não admira por isso que a Espanha seja considerado o maior produtor mundial de pinhão, retirando importância ao nosso país com algumas consequências económicas.
O pinhão é um produto muito interessante do ponto de vista da nutrição, sendo muito rico em ácidos gordos de elevada qualidade para a saúde humana, como são os ácidos linoleico e linolénico, possuindo também teores elevados de proteína, fibras e de minerais como o Magnésio, Cálcio e Fósforo. A sua importância não se restringe apenas à alimentação já que a casca da semente, bem como as escamas das pinhas, são posteriormente aproveitadas para a produção de combustível de caldeiras ou para a produção de biomassa.
Do pinheiro-manso também se aproveitou e aproveita a madeira. Trata-se de uma madeira muito resinosa e flexível, muito resistente à água e, por conseguinte, não é de surpreender que fosse a madeira escolhida para o tabuado de costados e fundos das naus que dobraram o Cabo da Boa Esperança.
Também a sua resina, com um leve odor a limão, continua a ser apreciada, sobretudo em perfumaria e da sua casca extraem-se taninos que durante muitos anos foram usados na indústria dos curtumes.
Como já referido, é uma espécie importante na protecção dos solos arenosos (protecção de dunas, por exemplo) permitindo rendimentos florestais com a utilização de solos pobres sendo, sendo também uma árvore de valor ornamental não apenas pelo seu interesse paisagístico mas também pela sombra que proporciona.
Colectado e usado pelos primeiros homens, plantado desde a Antiguidade, já Teofrasto (372 a.C. — 287 a.C.) – considerado como o pai da Taxonomia – o referia nos seus estudos, chamando-lhe “Pinheiro doméstico”. O poeta romano Ovídio (séc. I a.C.) refere na sua obra “Ars Amatoria” (A arte do amor) as capacidades afrodisíacas do pinhão e Galeno (séc. II d.C.) sugere uma mistura de pinhões com mel e amêndoas para melhorar o desempenho sexual. Também Apicius (25 a.C. – 37 d.C.), na sua obra “De re coquinaria” (Ars Magirica ou Apicius Culinaris, uma compilação de receitas culinárias da Roma antiga) recomenda uma mistura de pinhões, cozinhados com cebola, mostarda e pimenta para se atingir os mesmos resultados.
Coma pinhões portugueses. Promova o Pinheiro-manso

Texto: Rubim Almeida* | Foto: Marta Pinto

Bibliografia:
Fady, B. 2012. Biogeography of neutral genes and recent evolutionary history of pines in the Mediterranean Basin. Annals of Forest Science, 69 (4): 421-428
Klaus, W. 1989. Mediterranean pines and their history. Plant Systematics and Evolution, 162 (1-4): 133-181. Rejmfinek, M. 1996. A Theory of Seed Plant Invasiveness: the first sketch. Biological Conservation 78: 171- 181

Características

  • Altura : Geralmente 10-15m. Até 35m.
  • Fruto : Pinhas, apresentando duas sementes (pinhões) por escama.
  • Habitat : Regiões arenosas costeiras, húmidas e de solos bem drenados e de pouca variação térmica.
*Este texto resulta de uma colaboração graciosa do Professor Doutor Rubim Almeida com o FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. O Professor Doutor Rubim Almeida é docente e investigador na área da botânica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde é coordenador do Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território.  Integra o CIBIO / INBIO.