A Murta, também conhecida popularmente como Murteira, Mirto ou Murtinho, é um arbusto que pode atingir os 5m de altura, exibindo flores brancas de agradável perfume. Pode ser encontrada em matos e charnecas da região mediterrânica, em solos bem drenados e férteis. Mas é-nos sobretudo conhecida de jardins, pois é bastante apreciada como ornamental.

De aspeto muito ramoso e com ramos de secção quadrangular, os seus rebentos são pubescentes e glandulosos, tornando-se mais tarde glabros. As folhas, de aspeto coriáceo, são brilhantes, lustrosas e muito aromáticas (quando esmagadas). Inserem-se de forma oposta, medem cerca de 5cm, apresentando uma forma ovado-lanceolado, de cor verde-escuro na página superior e mais claras na inferior, mostrando inúmeras pontuações. As flores, solitárias e axilares, compostas por 5 pequenas pétalas brancas e caducas e numerosos estames, são também aromáticas e florescem a partir do final da Primavera (Maio a Julho). Os seus frutos são pequenas bagas elipsoides de tons que, na maturação, variam entre o azul-escuro e o negro, apresentando uma ligeira coroação correspondente às sépalas.

Para além do seu valor ornamental, conferido sobretudo pelas suas flores e aroma, a Murta é frequentemente usada em intervenções paisagísticas pelo seu potencial de controlo de erosão dos solos. A sua utilização permite execução de sebes e integra arranjos em grupos de arbustos com distintas características.

As flores, os frutos os caules e as folhas da Murta podem ser usados na alimentação. Sendo usada especialmente para aromatizar carnes de sabor forte, como é o caso do borrego e de algumas peças de caça. Mas as suas flores, de aroma delicado e sabor adocicado, são usadas para aromatizar saladas de fruta. Os seus frutos podem ser consumidos frescos ou secos e usados como aromatizantes em molhos e xaropes, tendo um paladar comparável ao do zimbro. Vulgarmente denominados como murtinhos, os frutos da Murta são usados para a confeção de um licor denominado por “Arrabidino”.

São várias as propriedades farmacológicas da Murta, sendo as suas diferentes partes usadas pelas suas ações antibióticas, antissépticas, expetorantes, adstringentes, carminativas e hemostáticas. As principais indicações terapêuticas relacionam-se com o tratamento de infeções respiratórias e urinárias, sendo no entanto o seu uso muito mais vasto. Contudo, o uso da Murta, em doses não terapêuticas pode causar perturbações digestivas e reações alérgicas.

Também na cosmética a Murta é amplamente usada. Folhas, flores e frutos integram a composição de cremes e máscaras de limpeza, de champôs anticaspa e aclaradores e em tónicos reparadores para a pele. Do seu óleo essencial, extraído da casca, folhas e flores, são fabricados perfumes, sabões e sabonetes. As suas flores, de aroma mais delicado, são usadas na preparação de uma água aromatizada – “Eau d’Ange” e de diversos pot-pourris.

Mas as utilizações da Murta são ainda mais vastas. A partir da sua madeira, de grão fino, obtém-se carvão de alta qualidade e fabricam-se bengalas, pegas de ferramentas e móveis. Os seus ramos e folhas são usados na indústria dos curtumes.

Talvez pelo interesse que sempre terá suscitado, a Murta está representada em muitas histórias e lendas, da mitologia Grega à Bíblia Sagrada. Uma das mais populares será a da “Metamorfose de Myrrha”, da qual se encontram diversas versões. Myrrha apaixonada pelo seu próprio pai, por castigo de Afrodite, conspirou para o seduzir. Quando descoberta, em fuga e temendo pela sua vida, Myrrha pede aos Deuses que a tornem invisível. Afrodite, compadecida, acaba por a transformar num pé de Murta para que escape ao seu trágico destino. Mais tarde, do seu tronco, nascerá Adonis. A Murta torna-se uma planta sagrada para Afrodite, Deusa do Amor, e por isso tradicionalmente incluída nos ramos de noiva e usada em águas perfumadas para banhar as noivas no dia do seu casamento. Também na Bíblia, no Antigo Testamento, se encontram referências à Murta, que surge como sendo uma das 4 espécies que marcam a jornada dos filhos de Israel desde o Egipto até à Terra Prometida. Atravessando o deserto acamparam junto às nascentes de água representadas, na Festa dos Tabernáculos, pela Tamareira (Phoenix dactylifera), a passagem pelas margens do Rio Jordão é figurada pelo Choupo (Populus euphratica). Continuando o seu percurso, subiram montanhas cobertas por densas florestas mediterrânicas representadas pela Murta. Mais tarde, como representante das áreas desmatadas e atualmente cultivadas surge a Cidreira ou Cidrão (Citrus medica).

Texto: Mariana Marques dos Santos | Foto: Marta Pinto

Bibliografia:
CASTROVIEJO, S. et al. (1986-2009) – Flora Ibérica – Plantas Vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Vol VIII. Real Jardín Botánico, C.S.I.C., Madrid.
CORREIA, C. (2004) – Guia Prático  – Ervas Aromáticas e Plantas Medicinais. Impala Editores S.A.
FERNANDES, F.M.; CARVALHO, L.M. (2003) – Portugal Botânico de A a Z – Plantas  Portuguesas e Exóticas. LIDEL – Edições Técnicas, Lda. Lisboa
FLETCHER, N. (2007) – Mediterranean Wild Flowers. Dorling Kindersley. London.
FLORA 2 – PLANTS OF GREEK MYTH (http://www.theoi.com/Flora2.html).
FLORA OF ISRAEL ONLINE (http://flora.org.il/en/books/plant-stories-2/chapter-n/useful_plants_n3/).

Características

  • Altura : Até 5m.

  • Fruto: Pequenas bagas elipsoides de tons que, na maturação, variam entre o azul-escuro e o negro, apresentando uma ligeira coroação correspondente às sépalas.

  • Habitat: Ocorre em matos, charnecas e em orlas ou sob coberto de bosques abertos, da região mediterrânica, em solos bem drenados e férteis, mas com alguma humidade superficial.