O lodão-bastardo (Celtis australis) chegou a estar incluído na família Ulmaceae, mais tarde na família Celtidaceae (Lopez, 2007) e mais recentemente, após análise genética, foi integrado pelo Angiosperm Phylogeny Group, na familia Cannabaceae (a mesma do género Cannabis).
É uma árvore que pode atingir os 25 m de altura, dependendo das condições ambientais, com um tronco robusto e reto, de casca quase lisa. O seu crescimento é lento: em dez anos pode crescer 1,5 m em altura. Em termos de longevidade pode chegar aos 600 anos de idade.
Tem uma copa ampla, com os ramos principais eretos e os raminhos pendentes. A sua folha lanceolada com uma ponta pronunciada e ligeiramente curvada e um pecíolo bem desenvolvido é de cor verde intenso na face superior e mais pálida na página inferior. O bordo da folha é serrado. As características de folhas e os seus frutos com tamanho pouco maior que uma ervilha (que passam por 4 cores: verde, amarelo, avermelhado, negro) tornam-na facilmente reconhecível.
Em Portugal surge espontaneamente e é também muito usada como espécie ornamental nas cidades (porque resiste bem à poluição). Por exemplo, 16% das 41.247 árvores da cidade de Lisboa são desta espécie (Soares et al. 2011). Prefere regiões de clima suave, temperado, principalmente em solos frescos e soltos.
O fruto do lodão-bastardo é comestível, de sabor doce e agradável, embora seja uma drupa com muito ‘caroço’ e pouca ‘carne’. Pelo facto de o seu fruto ser parecido com a ginja o lódão é também vulgarmente conhecido por ginjinha-do-rei. A espécie reproduz-se bem por semente e também por estaca.
As cocções de folhas e frutos do lódão-bastardo usaram-se na medicina popular para tratar a disenteria e fluxos menstruais abundantes.
A sua madeira flexível, compacta e elástica é muito apreciada para fazer aros de barris, remos, esquis, cajados. A madeira também é boa para queimar e fazer carvão. Teofrasto inclui esta madeira entre as mais adequadas para escultura e associa-a à madeira de buxo, por ser pesada e de grão fino.
A raiz e o lenho usaram-se em tempos para curtir as peles. Da sua raiz extrai-se ainda um corante amarelo usado para tingimentos na indústria têxtil.
As folhas e ramos tenros são usadas como forragem para alimentar o gado no inverno. Esta espécie chegou a ser plantada para formar cercas e suportar as vinhas.
Os nobres romanos usavam frequentemente esta espécie nos seus jardins. Uma história reza que o orador Lucio Craso tinha seis destas árvores no seu jardim e só aceitou vender a casa quando conseguiu que as árvores fossem excluídas do contrato de venda. Nas famílias tradicionais na Catalunha existe o costume de plantar um lódão no nascimento do primogénito (o que vai herdar as propriedades da família).
A propósito de uma árvore desta espécie o nosso poeta Eugénio de Andrade escreveu este testemunho, em 1996: “Se falei de árvores com ácida melancolia é porque me derrubaram uma das que mais amei na vida, o velho lódão que me entrava pela varanda e dava noticia das estações. O móbil foi, naturalmente, atravancar a rua com mais automóveis (…) Levei anos a lamentar-me até que, não há muito ainda, numa cerimónia em que surpreendentemente me fizeram cidadão honorário do Porto, disse ao Presidente da Câmara que preferia uma árvore à porta que uma medalha de ouro da cidade (…) ele prometeu-me outro lódão e cumpriu a promessa.“
Texto: Marta Pinto | Foto: Marta Pinto
Bibliografia:
González, G.A.L, 2013. Guia de los árboles y arbustos de la Península Ibérica y Baleares. 3ª edición. Ed. Mundi-Prensa. 894pp.
Villén, A.R., 2010. Senderos entre los árboles. Alymar Ediciones. 384pp.