Espécie de porte arbustivo e de folha perene, pode atingir até cerca de um metro de altura e apresenta uma copa de forma oval ou piramidal.
Presente na Europa, no Cáucaso, no Monte Atlas e na Macaronésia. Em Portugal continental, a gilbardeira ocorre um pouco por todo o território.
Do seu rizoma surgem diversos caules, de aspeto estriado e muito ramificados na parte superior. Os seus caules ostentam pequenas estruturas rígidas que se assemelham a folhas e que, frequentemente, com elas são confundidas – os cladódios – mas que na verdade nada mais são do que porções espalmadas do próprio caule, de formas ovado-lanceoladas e com um espinho apical. As folhas estão reduzidas a pequenas escamas, de escasso milímetros e formas lanceoladas. As inflorescências surgem discretamente sobre os cladódios, em pequenos grupos de uma a três flores de tépalas esverdeadas. Os frutos são bagas globosas, de um tom vermelho-forte, que contrastam com o verde-escuro dominante em toda a planta. A época de floração acontece entre os meses de Março e Julho.
Com preferência por locais frescos e um tanto sombrios, surge frequentemente a coberto de bosques de carvalho-alvarinho, de sobreiros e azinheiras. Contudo, esta espécie apresenta alguma capacidade de adaptação a outras condições, sendo consideravelmente resistente à seca e podendo fixar-se em zonas dunares e em fendas de rochas.
Pela sua aspereza e forma de crescimento, a gilbardeira é usada no paisagismo para a execução de sebes e para promover a cobertura do solo.
Ao longo dos séculos, a gilbardeira tem estado presente no quotidiano de diferentes povos, servindo diferentes propósitos.
Os rebentos de gilbardeira, de sabor amargo e pungente, podem ser consumidos como alimento, sendo preparados através da cozedura como substitutos dos espargos. Este é já um costume antigo, pois há relatos de que os antigos gregos e romanos o fariam. As suas raízes, juntamente com as dos espargos, da salsa, da erva-doce e do aipo, constituem um dos ingredientes de uma bebida licorosa famosa – o Licor das Cinco Raízes. As sementes, quando torradas, podem também ser incluídas na alimentação, sendo usadas em substituição do café.
Pouco usada na farmácia moderna, os povos antigos souberam-lhe encontrar diversas propriedades cuja eficácia é hoje comprovada e aconselhada. A raiz da gilbardeira apresenta propriedades de ação depurativa, sudorífera, diurética e vasoconstritora. As principais indicações são as de utilização no tratamento de insuficiência venosa e de hemorroides.
Mas os usos da gilbardeira estendem-se além da alimentação e da farmácia. Outras aplicações, como o fabrico de pequenas vassouras e de esfregões, de ação abrasiva pela aspereza das suas falsas folhas, ligam a gilbardeira, desde o século XVI, aos talhantes e açougueiros, que com elas mantinham a limpeza dos blocos de corte. Pelas mesmas caraterísticas de abrasão e aspereza, estas vassouras foram usadas para limpar paredes, tectos, fornos e chaminés. Destes usos surgem diferentes nomes comuns para a gilbardeira, como vassoura-de-açougueiro, erva-dos-vasculhos e esfolinhadeira. Mas, pelas suas semelhanças ao azevinho, os açougueiros encontraram-lhe um outro uso, e a gilbardeira torna-se uma decoração de Natal nos expositores de carne. Este uso acabaria por se alargar a outros contextos, e a gilbardeira passa a estar presente nas decorações da quadra Natalícia de muitas famílias e de diversas igrejas – onde os seus tons de verde-escuro e vermelho-forte, trazem o calor da quadra. E foram estes usos, de utensílios e de adorno, mais do que os da alimentação e farmácia, que condicionariam a diminuição dos exemplares desta espécie, passando a gilbardeira a estar sujeita a um corte excessivo e mais rápido do que o tempo que lhe permitiria recuperar. Assim, o seu corte encontra-se atualmente condicionado e regulamentado por meio de legislação comunitária (Anexo V da Directiva Habitats) atualmente já transposta para a legislação nacional.
Texto: Mariana Santos* | Foto: Maria Almeida
Bibliografia:
ALLEN, D. E.; HATFIELD, G. (2004) – Medicinal Plants in Folk Tradition – An ethnobotany of Britain and Ireland. Timber Press. Cambridge.
CASTROVIEJO, S. et al. (1986-2010) – Flora Ibérica – Plantas Vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Vol. 20. Real Jardin Botánico. C.S.I.C., Madrid.
SILVA, J. S. (ed.). (2007) – Árvores e Florestas de Portugal. Vol. 9 – Guia de Campo – As árvores e arbustos de Portugal continental. Público, Comunicação social, SA e Fundação Luso-Americana. Lisboa.
THOMAS, P.A.; MUKASSABI, T.A. (2014) – Biological Flora of the British Isles: Ruscus aculeatus , Journal of Ecology. 102:1083-1100
VICKERY, R. (1995) – A Dictionary of Plant Lore. Oxford University Press. Oxford.
Flora Digital de Portugal: Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – https://jb.utad.pt/especie/Ruscus_aculeatus
Flora-On: Flora de Portugal Interactiva. Sociedade Portuguesa de Botânica – https://flora-on.pt/ – /1ruscus
Missouri Botanical Garden: Plant Finder – http://www.missouribotanicalgarden.org/PlantFinder/PlantFinderDetails.aspx?taxonid=281908
Plants For a Future – https://pfaf.org/user/Plant.aspx?LatinName=Ruscus+aculeatus
Plant Lives: Plant Biographies – http://www.plantlives.com/docs/R/Ruscus_aculeatus.pdf
Altura : Geralmente até 1,5m
Fruto : Bagas globosas
Habitat: Locais frescos e um tanto sombrios, surge frequentemente a coberto de bosques de carvalho-alvarinho, de sobreiros e azinheiras.