O azevinho (Ilex aquifolium) pertence à família Aquifoliaceae, família que também inclui o ‘mate’ (Ilex paraguensis), a bebida nacional da Argentina e do Uruguai.
O azevinho é uma espécie de folha persistente que pode ter um porte arbustivo ou arbóreo mas raramente atinge alturas superiores a 10 m. A casca é lisa, esverdeada ou verde acizentada. As folhas são alternas, muito rígidas, sem pelos e muito brilhantes. O bordo da folha é ondulado, com dentes espinhosos. Quando a árvore já é adulta os dentes tendem a desaparecer.
Floresce entre abril e junho e as flores são brancas ou rosadas, pequenas, e nascem nas axilas das folhas.
A espécie é dióica, o que significa que os sexos estão separados em pés distintos. O fruto – uma baga vermelha do tamanho de uma ervilha – amadurece em outubro e pode permanecer na árvore (só ocorre nas árvores femininas) um longo período após a maturação. Cada fruto tem 4 a 5 sementes.
O azevinho ocorre em bosques sombrios e vales de montanha, até 1600 m de altitude. Prefere solos frescos e protegidos, refugiando-se habitualmente no interior dos bosques e em zonas de sombra.
A palavra ilex deriva de um dialeto mediterrânico preindoeuropeu e aparece associado à azinheira (Quercus ilex) bem como ao azevinho, por ter as folhas algo parecidas com as da azinheira. Os romanos chamavam ao azevinho apenas aquifolium.
A madeira do azevinho é muito pesada e, tal com a madeira do buxo (Buxus sempervirens), não flutua na água. É uma madeira branca ou acizentada, de textura fina e uniforme, dura e difícil de trabalhar. É muito apreciada em trabalhos de marcenaria. Absorve bem os corantes e é frequentemente tingida de negro para imitar o ébano, madeira africana usada nos móveis de luxo.
O azevinho é uma planta medicinal e muito tóxica: 20 a 30 frutos podem causar a morte a um adulto. O azevinho contém rotina, ilicina e teobromina e atribuem-se a esta planta propriedades antireumáticas, antipiréticas, antidiarreicas e espasmódicas Usa-se uma cocção das folhas de azevinho para tratar o reumatismo, a gota, a atonia intestinal, a diarreia, a febre e até a gripe. No passado usavam-se as folhas como diurético e os frutos como purgante ou vomitivo. Em doses baixas, primeira fase da intoxicação, os frutos atuam como um purgante drástico e depois causam diarreia, vômitos, convulsões e, no limite, a morte.
O corte de ramos de azevinho ligado a certas celebrações religiosas – principalmente o Natal – é na verdade um costume pagão muito antigo. Existem referências da utilização de azevinho nas festa Saturninas, em honra de Saturno, que se celebravam na antiga Roma (segundo a história o azevinho era a planta sagrada deste deus) As Saturninas ocorriam entre 17 e 23 de dezembro e nestes dias as casas eram decoradas com ramos e coroas de azevinho, bem como com gilbardeira (Ruscus aculeatus) e outros ramos de árvores e arbustos de fruto escuro. Com este gesto pretendia-se honrar certas deidades que estavam sob a tutela destas plantas. Os ramos e coroas desta plantas, depois de secos, eram queimados, para purificar.
Existe igualmente uma lenda cristã associada ao azevinho. De acordo com essa lenda, quando a Sagrada Família era perseguida pelos soldados do rei Herodes, que queria matar Jesus, o azevinho forneceu-lhe proteção. Reza a lenda que Maria, ao ver que os soldados estavam muito perto se aproximou de um azevinho (que na altura ainda era uma árvore de folha caduca) e lhe pediu que os escondesse. E, milagrosamente, as folhas do azevinho cresceram e esconderam a família. Muito reconhecida, Maria abençoou a planta, concedendo-lhe o dom de se conservar para sempre verde. E foi assim que o azevinho se tornou um arbusto de folha persistente. O azevinho tornou-se assim símbolo do Natal pelo seu papel de proteção de Jesus.
Esta associação ao Natal teve um elevado custo para esta espécie no nosso país. Está protegida por lei desde 1989.
Texto: Marta Pinto | Foto: Marta Pinto
Bibliografia:
López, G., 2007. Guia de los Arboles y Arbustos de la Peninsula Iberica y Baleares. Mundi-Prensa Libros, S.A. 3a Edicion. 894pp.
Villen, A.R, 2002. Senderos entre los árboles. Ediciones Alymar.