Foi deambulando pelos frondosos caminhos do Parque Ocidental da Cidade que, na tarde do passado dia 19 de fevereiro, se realizou a quinta visita da Rota das Árvores do Porto 2022. Numa tarde que se adivinhava ventosa, lá partimos à descoberta das muitas maravilhas, curiosidades e particularidades botânicas, desde as mais visíveis e marcantes até às mais discretas e escondidas, que o conjunto arbóreo e arbustivo daquele que é considerado como o maior parque urbano de Portugal — um jovem com pouco mais de três décadas de existência e ainda em crescimento — tem para oferecer a quem o visita.
Quem nos deu as boas vindas à entrada, antes ainda de nos embrenharmos pelo parque, foi um, agora consideravelmente discreto, australiano eucalipto-de-flor-vermelha (Corymbia ficifolia). Discreto pois as suas exuberantes flores de um vermelho muito vivo que lhe dão o nome se encontram por estes dias ausentes, regressando apenas nos dias mais quentes do verão. Apesar da ausência das flores, não se apresentava de modo algum desprovido de interesse, já que eram muitos os curiosos frutos em forma de urna, e em diferentes estágios de maturação, que se podiam observar, pendentes, um pouco por toda a copa. Ali perto espreitava-nos uma outra Corymbia ficifolia, que também a todos encantará aquando do regresso das suas flores, por sua vez de uma tonalidade mais alaranjada e também característica da espécie.
Entrámos então, para quase de imediato nos determos; pois aquele que era o mote da visita logo ali nos aguardava: o pilriteiro (Crataegus monogyna). Este arbusto ou pequena árvore, parente das roseiras, macieiras e amendoeiras, é umas das mais bonitas espécies da flora nacional. Nesta altura do ano já lhe conseguimos admirar as suas recortadas folhas e, ocasionalmente, as suas delicadas e aromáticas flores brancas que, muito em breve, marcarão presença um pouco por todo o parque. Apesar de não o termos admirado durante a visita, ficou lançado o desafio de encontrar um outro pilriteiro, europeu mas alóctone, que se esconde algures no parque: um esquivo pilriteiro-rosa (Crataegus laevigata ‘Rosea Flore Pleno‘), cujas flores se assemelham a pequeninas rosas.
Continuando o passeio, fomos ao encontro de um bem português freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia), que nos ofereceu as suas flores, verdes e singelas, mas não por isso menos belas. Outras, mais exuberantes, foram-nos oferecidas de seguida; grandes, brancas e vistosas as da nipónica magnólia-estrelada (Magnolia stellata), e pequenas, em grande profusão e rosadas as da ameixoeira-de-jardim (Prunus cerasifera), outro membro da família do pilriteiro, nativo de um território que se estende entre os Balcãs e a China. Nesta última já se observavam também as suas características folhas de cor púrpura que, lá mais para o fim do verão, virão a ter a companhia dos frutos, roliços, doces e sumarentos.
Um pouco mais afastada estava uma ilustre desconhecida; uma dodonea-púrpura (Dodonea viscosa ‘Purpurea’). Nativa das regiões tropicais e subtropicais do mundo, chama a si, com alguma facilidade, a atenção pelas suas esguias folhas de tonalidades entre verde, o bronze e a púrpura. No entanto, tinha algo mais para nos revelar… Sendo uma espécie dioica, ou seja, com indivíduos masculinos e femininos, qual seria a condição desta que se nos apresentava? Pelas flores, ainda muito bem fechadas, não descobriríamos certamente… um olhar mais atento encontraria a resposta, literalmente pendurada nos seus ramos: pequenos grupos de frutos, secos, compostos por uma pequena cápsula rodeada por asas de textura semelhante à do papel crepe. Tratava-se, assim, de uma fêmea, que apresentava já nalguns dos seus ramos mais altos frutos frescos, com as suas muito características — e bonitas — asas de cor rosa forte.
Seguimos depois até junto de um insigne carvalho-alvarinho (Quercus robur), mas ainda antes de lhe dedicarmos toda a nossa atenção, olhámos por breves instantes os espinhos de um imenso pilriteiro que por ali lhe fazia companhia, espinhos esses denunciados por um dos outros nomes comuns pelos quais o Crataegus monogyna é entre nós conhecido: espinheiro-alvar. Olhámos então com grande atenção para o carvalho, que muito tinha para nos mostrar: longos amentilhos de flores masculinas amarelo-esverdeadas, diminutas e avermelhadas flores femininas “agarradas” a um longo pedúnculo e uma miríade de bugalhos, tudo muito bem emoldurado por folhas novas, de um verde quase intoxicante. Em simbiose perfeita com o carvalho encontrava-se um também nativo e aromático loureiro (Laurus nobilis) que, tal como a dodonea-púrpura, é uma espécie dioica. Desta vez as flores deram-nos a resposta: era um loureiro macho que tanta e boa companhia fazia ao carvalho-alvarinho.
Admirámos de seguida dois exemplares de liquidâmbar (Liquidambar styraciflua), esta espécie norte-americana em cujos ramos mais jovens crescem “asas” semelhantes a cortiça e que vão desaparecendo com a idade. Depois, voltámos a Portugal, para privar com um belíssimo “casal” de borrazeiras-pretas (Salix atrocinerea) que junto ao lago “namoriscava”; “ela” enfeitada por tomentosas inflorescências verde-acinzentadas e “ele”, não querendo ficar atrás, exibindo um áureo manto de delicadas flores. Perto deles, uma australiana cigarrilheira (Banksia integrifolia) exibia também as suas belas inflorescências; grandes espigas compostas por numerosas flores amarelas, bem como as suas características folhas bicolores.
Após uma breve caminhada, deparámo-nos com um esbelto abeto-de-douglas (Pseudotsuga menziesii), uma espécie nativa das orlas do Pacífico norte-americano e que, por lá, pode crescer até aos 100 metros de altura. Este do Parque da Cidade era, no entanto, ainda um pequenote, mas, apesar disso, apresentava já as suas inconfundíveis pinhas pendentes, nas quais se observavam as suas longas e muito distintivas brácteas trifurcadas. Fazendo-lhe companhia, encontravam-se alguns pinheiros-de-alepo (Pinus halepensis), nativos da região mediterrânica e subespontâneos em Portugal, de copas abertas e delicadas, compostas por pares de agulhas verde-amareladas e exibindo grande profusão de pinhas estreitas e cónicas.
Visitadas que estavam estas duas coníferas, fomos então visitar dois pitósporos, ambos nativos do outro lado do mundo, mais concretamente da Nova Zelândia. Do primeiro, o pitósporo-de-folha-fina (Pittosporum tenuifolium), vislumbrámos as suas pequeníssimas e aromáticas flores de cor púrpurea, quase a emergir, as onduladas e lustrosas folhas e as pequenas sementes de cor negra. Do segundo, o Pittosporum crassifolium, as suas folhas grossas que estão na origem do nome crassifolium, tomentosas na página inferior, bem como as suas pequenas flores vermelho-púrpura e, tal como no pitósporo-de-folha-fina, os seus frutos contendo negras e resinosas sementes, comuns a todos os pitósporos.
Ostentando florações muito menos discretas do que as dos pitósporos estava um pequeno grupo de jovens magnólias de folha caduca, que nunca falham na sua capacidade de nos deslumbrar… entre elas conseguimos observar as mais esguias e purpúreas flores da chinesa magnólia-tulipa (Magnolia liliiflora) e as mais volumosas e rosadas da magnólia-de-soulange (Magnolia x soulangena), o híbrido obtido do cruzamento entre as magnólias liliiflora e denudata, esta última também uma nativa da China.
Por fim, visitámos um grupo de majestosos ciprestes-da-califórnia (Cupressus macrocarpa), exibindo as suas escuras ramagens em planos horizontais, fazendo lembrar aquelas dos cedros-do-líbano (Cedrus libani). Nas pontas dos seus ramos encontravam-se milhares de pequeninos cones masculinos amarelos, repletos de pólen.
Junto a uma grande e nativa murta (Myrtus communis), então desprovida quer das suas bonitas flores quer dos seus saborosos frutos, demos por encerrada a conversa com as árvores do Parque da Cidade, ficando a promessa de a continuar já no dia 19 de março, com as que habitam o formoso Parque do Covelo.
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A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto, e enquadra-se no projeto Florestas Urbanas Nativas no Porto – FUN Porto. Colabora o Arquiteto João Almeida.