Serão as árvores, para além de tudo o mais, musas inspiradoras? Este foi o mote para a quarta visita da Rota das Árvores do Porto que decorreu no dia 11 de junho de 2016, com 37 participantes. Reunidos junto ao lago do Jardim da Cordoaria, à sombra preciosa das suas árvores majestosas (com destaque para as gigantes sequóia e araucária) começamos por evocar a memória de José Marques Loureiro.
Junto à estátua “a flora”, criada pelos seus pares em sua homenagem, relembramos o percurso notável daquele que ficou conhecido pelo “jardineiro das virtudes”. De facto foi no Horto das Virtudes que José Marque Loureiro (1830-1894) fez crescer a Real Companhia Hortícola Portuense, dinamizando o maior horto da Península Ibérica, com visitas habituais da realeza (D. Fernando, D. Luís, D. Maria Pia, D. Afonso…). Foi ainda fundador do Jornal de Horticultura Prática, publicação pioneira que ainda nos dias de hoje faria muita falta.
Após debater as várias teorias que justificam a estranha forma dos plátanos da Cordoaria, rumamos ao Passeio das Virtudes para apreciar a disposição em socalcos daquele que é hoje um dos mais belos parques da Cidade do Porto. Adquirido pela Câmara Municipal em 1965, o Horto das Virtudes foi transformado em Parque, com abertura em 1999. Apreciamos ainda o monumental Chafariz das Virtudes, antiga Fonte do Rio Frio, que deve o seu nome às curas medicinais que o tornaram famoso no início do século XVII. Encontra-se classificado como Monumento Nacional, por despacho Régio de D. Manuel II.
Ainda antes de entrarmos no Parque, visitamos o edifício da Cooperativa Árvore. Mandado construir em 1767 por José Pinto de Meireles (sugere-se a leitura do livro “A Quinta das Virtudes”, de Mário Cláudio), o edifício foi adquirido pela Cooperativa em 1989. Esta instituição por sua vez foi criada em 1963 por artistas, escritores, arquitectos e intelectuais interessados em criar novas condições para a produção e difusão cultural, de forma livre e independente. Atualmente o edifício integra salas de exposição, oficinas, loja e restaurante. No armazém de obras de arte, visitamos uma placa que foi preservada e que refere o horto fundado por José Marques Loureiro.
Finalmente no Parque exploramos os seus socalcos, encontrando magníficas árvores, com destaque para a Ginkgo Biloba, provavelmente o maior exemplar da Europa e classificada de interesse público em 2005.Descobrimos que se trata de uma fêmea (é uma espécie dióica) e que possui importantes utilizações na medicina. A espécie é considerada um “fóssil vivo” (já existia no tempo dos dinossauros) graças à sua resiliência – inclusivamente resistiu até à bomba atómica em Hiroshima. Apreciamos ainda, e a título de exemplo, a Pistacia atlantica, com 135 anos e plantada por José Marques Loureiro, e uma Chorisia speciosa, em vias de classificação.
No Parque destacam-se ainda as obras instaladas aquando do simpósio de escultura dinamizado pela Cooperativa Árvore no seu cinquentenário (em 2013). Nestas peças mais uma vez as árvores funcionaram claramente como inspiração artística. Os participantes quiseram seguir o exemplo e, com folhas e raminhos recolhidos na visita (encontrados no chão e não arrancados!) realizaras as suas próprias obras de arte em cerâmica, com a ajuda do mestre Pedro Gil. A melhor forma de terminar a visita!
Agradecemos aos preciosos guias da área dos jardins da Câmara Municipal do Porto, Arnaldina Riesenberger, Isabel Lufinha e José Franco, bem como todo o apoio prestado pela Cooperativa Árvore, em particular à Filipa Ferreira, Diana Pinheiro e Pedro Gil.
FOTOS | Créditos: @2016CRE.Porto|pamacedo
Iniciativa integrada na Rota das Árvores do Porto, promovida pelo Município do Porto no âmbito do FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. Na Rota das Árvores do Porto são parceiros a Santa Casa da Misericórdia do Porto, a Árvore – Cooperativa de Atividades Artísticas, o CRE.Porto, a Metro do Porto, a Ordem dos Médicos (Secção Regional do Norte) e o Instituto Português de Naturologia.