No dia 14 de Maio de 2016 decorreu a terceira visita da Rota das Árvores do Porto, desta vez durante todo o dia. Tivemos a oportunidade de visitar dois jardins históricos, o jardim da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, junto à Arca d’Água, e os jardins do Centro Hospitalar Conde de Ferreira (CHCF), propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Visitámos ainda a maior horta social da Europa localizada no Parque José Avides Moreira (Conde de Ferreira).
O ponto de encontro foi no Jardim de Arca d´Água, sob a proteção do seu coreto pois o dia estava cinzento e a ameaça de chuva era uma constante. Aí reuniram-se os participantes e os guias: Luísa Ramos, médica psiquiátrica do CHCF, Virgílio Borges, engenheiro agrónomo e Tânia Ferreira, engenheira florestal, ambos os últimos da divisão de jardins da Câmara Municipal do Porto (CMP).
Tivemos a oportunidade de contar com a presença do Vereador do Pelouro da Inovação e Ambiente da CMP, Filipe Araújo, que nos falou do muito que tem vindo a ser feito para aumentar as florestas nativas urbanas na zona metropolitana do Porto e da importância de cuidarmos das nossas árvores – principalmente das mais antigas pois são estas as que têm um maior impacto nos benefícios ambientais. Se, dos recursos que nós exigimos ao planeta, 70% são assegurados pelas árvores, não deverá haver dúvida alguma que, se as árvores cuidam de nós, também nós temos o dever de cuidar delas.
Guiados pela Luísa Ramos, uma botânica amadora e uma apaixonada pelas árvores, visitámos o Jardim da Ordem dos Médicos. É de destacar a coleção de plantas que aí encontrámos como por exemplo Cedros do Atlas, Araucárias, Magnólias, Rododendros, Camélias entre outras, juntamente com os lagos e grutas, tão típicos dos jardins românticos. Neste espaço tão harmonioso tivemos a oportunidade de homenagear Jacinto de Matos, um dos maiores jardineiros-paisagistas portugueses da primeira metade do século XX, com tanta obra feita na cidade do Porto e também no resto do país.
Terminamos a visita junto ao campo de ténis e ao monumental Tulipeiro, árvore classificada como de interesse público em 2011, com as suas caraterísticas folhas e flores.
Estando mesmo ali ao lado, visitámos o Jardim de Arca d´Água orientados pelos dois engenheiros da CMP que nos fizeram uma breve enumeração das árvores que existem neste jardim e nos explicaram um pouco o que foi feito aquando da requalificação deste magnífico espaço.
E porque o tema desta visita foi as “Árvores que cuidam de nós”, nada melhor que termos parado um pouco no meio do jardim e termo-nos deixado guiar pelas palavras serenas do instrutor de Tai chi chuan, Pedro Miguel Sousa, do Instituto Português de Naturologia. Despreocupadamente e com grande entrega, miúdos e graúdos seguiram as indicações e foi assim possível sentir, no nosso corpo e na nossa alma, a paz e a boa energia com que árvores, pássaros e vento nos envolveram.
À tarde reencontrámo-nos no CHCF onde, mais uma vez, tivemos o privilégio de ser guiados pela Luísa Ramos, médica daquela instituição e que, como ninguém, conhece todos os seus espaços interiores e exteriores. Segundo a nossa guia e, por forma a promover a saúde, os hospitais, de uma maneira geral, estavam implementados em zonas com manchas arbóreas. Pretendia-se promover a melhor e mais rápida recuperação dos doentes já que está provado que os doentes que podiam observar jardins e árvores chamavam menos vezes as enfermeiras, pediam menos analgésicos e tinham menos stress.
Também aqui, quando o CHCF foi construído de raiz com o intuito de tratar e preservar doentes com perturbação mental, havia muitas árvores e cada enfermaria tinha o seu próprio jardim individualizado. Tal ainda é possível ver nos dias de hoje. Observámos neste espaço Cedros do Líbano, Carvalhos Americanos, Sobreiros, Cedros dos Himalaias, Tulipeiros, Tamarix e muitas outras árvores que cuidaram e continuam a cuidar dos doentes do CHCF.
Visitámos o interior do centro hospitalar onde tivemos oportunidade de ver busto de Dr.º António Maria Sena – médico residente que desenvolveu um trabalho notável, o Salão Nobre onde está um retrato do Conde Ferreira, a capela, uma sala museu e a biblioteca. Já no exterior foi ainda possível ver o Panótico total, que antigamente era chamado o “pavilhão dos agitados”. Este edifício é constituído por 8 espaços: 6 celas e 2 salas. Em cada cela estava uma só pessoa e era assim possível vigiar o comportamento de várias pessoas ao mesmo tempo. Hoje trata-se de uma área museológica não deixando de se sentir a história e o peso deste lugar.
A tarde terminou com a visita à maior horta social da Europa inserida no Parque José Avides Moreira, com três hectares de terreno. Pudemos passear no meio dos talhões destinados à agricultura biológica, ver as instalações onde se guardam as alfaias agrícolas, a coleção de camélias e o pomar.
Quem diria que tão perto de nós existem uns jardins com tanta história, com tanta riqueza e que tanto têm contribuído para a nossa saúde psíquica e física. É sem dúvida um encontro da botânica com a medicina que devemos conhecer e acarinhar. Mas, para além destes, há inúmeros jardins na nossa cidade dos quais podemos e devemos usufruir. Pela sua saúde, passe tempo nos jardins.
Observação: ambos os espaços estão abertos a visitas, bastando um simples pedido de autorização (no caso da Ordem dos Médicos).
Relato escrito pela participante Sofia Bacelar, a quem a organização agradece.
FOTOS | Créditos: @2016CRE.Porto|ampereira & @2016CRE.Porto|malmeida
Iniciativa integrada na Rota das Árvores do Porto, promovida pelo Município do Porto no âmbito do FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. Na Rota das Árvores do Porto são parceiros a Santa Casa da Misericórdia do Porto, a Árvore – Cooperativa de Atividades Artísticas, o CRE.Porto, a Metro do Porto, a Ordem dos Médicos (Secção Regional do Norte) e o Instituto Português de Naturologia.