Apresentamos o relato da visita das Rotas das Árvores e da Floresta ao Porto (ver convite), dinamizada a 6 de junho, através das palavras escritas por uma das 56 participantes, Ana Mineiro (uma grande plantadora de árvores e comedora de paisagens), a quem muito agradecemos a partilha:
“O desafio do projeto Futuro – 100.000 Árvores na Área Metropolitana do Porto para o dia 6 de junho era modesto e singelo: “Tudo sobre Árvores: a sua biologia, lendas e curiosidades. Alguns dos mais magníficos (e desconhecidos) jardins da Cidade. As Quintas do Campo Alegre e os Caminhos do Romântico. E ainda… (re)aprender a desenhar”. Aberta a todos os interessados e incluindo um grupo de urban sketchers, esta Rota das Árvores seria ainda conduzida pelo Prof. Rubim Almeida, ilustre botânico da Universidade do Porto.
O calor apertava quando o grupo se reuniu debaixo de uma extraordinária araucária nos Jardins do Palácio de Cristal, e não seria preciso muito para que ao primeiro débito de nomes estranhos (Araucária heterophylla, Metrosideros excelsa…), relatos sobre tipos de folha ou arengas sobre bolotas e outros penduricalhos que geralmente caem no chão sem ruído a menos que se fale neles, os participantes começassem a anunciar dead lines esquecidas ou casamentos de amigos, para desaparecer debaixo de alguma sombra e ir para casa. Mas não é isso que acontece quando encaramos a EXCELÊNCIA.
A excelência do gigantesco tulipeiro classificado nos jardins da Casa Tait, de tronco torturado onde cabe uma pessoa, das magnólias gigantescas ali próximas, ou das maiores canforeiras da cidade. E ainda EXCELÊNCIA de um mestre, que nos diz para onde é preciso olhar e o que estamos a ver. Como um arquiteto explicaria ao boi o palácio para onde ele olha.
Com um discurso bem-humorado mas sem nunca evitar a informação, contando histórias de árvores que afinal são como pessoas – assistiram a guerras, a terramotos, ao cerco do Porto, quem sabe se fizeram até sombra a algum dinossauro, como poderia ser o caso do Gingko biloba dos jardins da CCDR-N -, o Prof. Rubim, autêntico magneto humano impossível de colar ao frigorífico, arrastou atrás de si uma cauda de participantes interessados até ao final da Rota das Árvores, no jardim da Casa das Artes, debaixo do abraço de um magnífico Liriodendron tulipifera – vulgo, tulipeiro – que há dezenas de anos faz par com uma igualmente extraordinária Fagus selvatica (faia, para os leigos como eu).
Mexericar sobre a vida das árvores ao som do traço fino dos urbans sketchers é um exercício que dificilmente se repetirá; mas virar as folhas para admirar as nervuras, ou apreciar a luz filtrada pelo verde que fica tatuada no chão, é coisa que se aprende para sempre.
O espanto monumental das árvores, dos belos e nobres carvalhos aos tão ameaçados teixos, dos gostosos medronheiros às gigantescas magnólias e tuias, combinado com uma conversa animada que nos transformou em ladrões de folhas e salteadores de pinhas, fez com que o que poderia ter sido uma caminhada árida e demasiado quente soubesse a pouco, e acabasse cedo demais. Terminou com um abraço ao tulipeiro e com a inevitável conclusão de que nem só as árvores lançam sementes – os bons mestres também.”