Texto: Rubim Almeida* | Foto: MariaAlmeida |
Juntamente com a “Zêlha” (Acer monspessulanum) o Bordo, Padreiro ou Falso-Plátano é uma das duas espécies nativas de Acer do nosso país.
Falamos de uma espécie arbórea caducifólia que pode atingir os 30 m de altura, com uma copa ampla, de folhagem densa e abundante que fornece ampla sombra e efeitos paisagísticos interessantes. As suas folhas são simples e opostas, palmatinérveas e pentalobuladas, de margens sem dentes ou com dentes irregulares, pecíolos longos (até 30 cm) e fazendo lembrar, no geral, as folhas dos plátanos. As suas flores são de cor amarelo-esverdeado apresentando-se em inflorescências de 10 a 20 cm de comprimento e contendo simultaneamente 20 a 50 flores hermafroditas e flores masculinas. O fruto é uma dissâmara (ver Acer monspessulanum).
Sendo uma espécie nativa do Sul e Centro da Europa e da Asia Menor ocorre, no nosso país, a Norte do Tejo. Preferindo altitudes acima dos 700 m e podendo chegar aos 1500 m, prefere as regiões montanhosas húmidas exigindo boas precipitações e sendo resistente ao frios e às geadas tardias. Trata-se de uma espécie de sombra (ou meia sombra) que prefere solos húmidos e bem drenados, ricos em nutrientes.
Trata-se de uma espécie resistente à poluição não admirando que seja usada em contexto urbano, mesmo quando próximo ao mar já que resiste bem à salsugem. A sua madeira, considerada de grande qualidade, varia entre a cor branca e um amarelo-dourado e é lustrosa, sendo fácil de trabalhar e muito afamada entre marceneiros, carpinteiros e torneiros. Tipicamente as “costas” dos violinos são executadas na madeira desta planta a qual serve também para a produção de vários utensílios domésticos tais como tamancos e colheres ou para o revestimento de paredes (folhados), parquetes, etc.
Durante muito tempo usaram-se diferentes partes desta espécies tanto na chamada medicina natural, como na alimentação. Assim, um dos queijos espanhóis mais afamados, o queijo “de cabrales”, era vendido envolto em folhas humedecidas de Acer pseudoplatanus (actualmente as leis que regulamentam a venda de produtos alimentares não o permitem). Também em Espanha, concretamente na região cantábrica, servia-se uma sobremesa – panchón – na qual as folhas deste Acer eram elemento obrigatório.
No que respeita às folhas, as mesmas eram usadas, em diferentes países (Portugal incluído) para sobre elas dispor o peixe nos locais de venda ou para conservar (devido às suas capacidades isolantes) produtos hortícolas como batatas ou maçãs.
No que à medicina tradicional concerne, as folhas eram usados como colírio, após terem sido maceradas em vinho e o interior da “casca” era usado para cobrir feridas, devido às suas propriedades cicatrizantes. Do mesmo modo, a “casca”, devido às suas características adstringentes foi usada para produzir um colírio e para tratar diferentes problemas dérmicos.
De um modo geral, as diferentes espécies de Acer, sobretudo as espécies americanas, são ricas em açúcares (da seiva do Acer saccharum extrai-se o famoso “maple syrup”, muito afamado nos USA e no Canadá). Da seiva do Acer pseudoplatanus, por cada litro, podem ser extraídos 25 g de açúcar (por redução), podendo-se assim beber a sua seiva como bebida refrescante e doce, obter-se um xarope (por redução) ou, deixando fermentar, um “vinho” que mais parece um licor.
Em períodos de menor produção foi usado como planta forrageira mas tal costume desaconselha-se para alguns animais, dado que recentemente terá sido demonstrado que é o responsável pela miopatia atípica do cavalo.
Bibliografia:
Jaime Coello (CTFC), Jacques Becquey (IDF), Jean-Pierre Ortisset (CRPF), Pierre Gonin (IDF), Teresa Baiges (CPF), Míriam Piqué (CTFC). 2008. El arce blanco (Acer pseudoplatanus), el arce real (A. platanoides) y el arce moscón (A. campestre) para madera de calidad. Centre de la Propietat Forestal. (http://www.pirinoble.eu/docs/Ficha%20Arce.pdf em 17 de Dezembro de 2014)
Votion, D.-M., Galen, G. van, Sweetman, L., Boemer F., Tullio, P., Dopagne, C., Lefère, Mouithys-Mickalad, A., Patarin, F., Rouxhet, S., Loon, G. van, Serteyn, D., Sponseller, B.T. and S. J. Valberg. 2014. Identification of methylenecyclopropyl acetic acid in serum of European horses with atypical myopathy. Equine Veterinary Journal, 46: 146–149. DOI: 10.1111/evj.12117
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* Este texto resulta de uma colaboração graciosa do Professor Doutor Rubim Almeida com o FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. O Professor Doutor Rubim Almeida é docente e investigador na área da botânica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde é coordenador do Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território. Integra o CIBIO / INBIO