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Texto: Marta Pinto | Foto: Maria Almeida

O sobreiro (Quercus suber) pertence à família Fagaceae, onde se incluem a faia (Fagus sylvatica), o castanheiro (Castanea sativa) e todos os carvalhos (Quercus sp.). O nome desta família resulta do latim fagus, e este do grego phegos, que significa “o que come”.

É uma arvore de folha persistente e de tamanho médio. O tronco é grosso e tortuoso, a copa é ovada, irregular ou em forma de guarda-sol, com ramos grossos erguidos ou quase horizontais. Normalmente não ultrapassa 20 a 25 m de altura.

O sobreiro tem uma característica única: uma casca esponjosa (até 20 cm de espessura) e muito leve percorrida por fendas longitudinais. Mesmo depois de descortiçada a espécie reconhece-se facilmente pela sua casca de superfície lisa e cor de ferrugem.

Habita a metade ocidental da região mediterrânica, mas a maioria está na península ibérica. Prefere ladeiras pouco elevadas, abrigadas dos ventos do norte, desde o nível do mar até 1200 m de altitude. Prefere bosques esclerófitos mediterrâneos, em terrenos silícios, solos soltos e permeáveis, em zonas frescas e abrigadas, com climas suavizados pela influência do mar, algo húmidos e sem geladas.

Lineu não teve nenhum problema em encontrar um epíteto específico para o sobreiro. Já era conhecido pelos romanos por esse nome: suber.

O sobreiro é uma arvore extremamente bem adaptada ao clima mediterrânico: tem raízes profundas para captar água em profundidade, folhas com cutícula para impedir o excesso de transpiração, perdendo assim menos água pela superfície e uma casca espessa e esponjosa que a protege dos incêndios. Sobre esta adaptação existe uma curiosa lenda.

O sobreiro pode ocasionalmente chegar aos 500 anos. Em Portugal está protegida por lei e é inclusivamente considerada a nossa Árvore Nacional.

O fruto do sobreiro é uma bolota – muito parecida com a da azinheira – mas tem um chapéu com escamas superiores prolongadas e com ponta encurvada. O sabor da bolota de sobreiro é menos doce do que a da azinheira (tem mais taninos). Uma curiosidade interessante: o sobreiro floresce em março, abril ou maio e às vezes de forma difusa até ao verão ou no outono após as primeiras chuvas. Por isso há geralmente três vagas de bolotas: as que amadurecem em setembro e outubro são as maiores e chamam-se “primeiriças” ou de “S. Miguel”; as de outubro e novembro são “secundeiras” ou de S. Martinho e as últimas, que amadurecem entre dezembro e fevereiro, são as chamadas tardias ou das “pombas” (por serem preferidas pelas pombas torcazes).

As bolotas são muito importantes para alimentar os porcos pois a sua maturação difusa permite uma alimentação mais prolongada no tempo do que as bolotas de azinheira (embora os porcos prefiram estas últimas, por serem mais doces).

O sobreiro começa a frutificar aos 10 a 12 anos e com regularidade a partir dos 25 a 30. Costuma frutificar todos os anos mas com maior abundância cada 2 a 3 anos.

Ainda sobre as bolotas, um estudo demonstrou que as árvores que dão bolotas maiores são as que estão mais a sul ou em áreas de menor altitude. Esta característica pode ser uma adaptação à secura. As bolotas maiores, e portanto com mais nutrientes armazenados, facilitam a instalação da árvore nas primeiras fases de crescimento para que ocorra um maior crescimento radículas até que possa valer-se por si mesma.

O principal uso do sobreiro é a cortiça, cuja utilização na indústria das rolhas, artes de pesca, colmeias, isolantes sonoros e térmicos, indústria do calçado, decoração, etc., é amplamente conhecida.

O descortiçamento costuma fazer-se no início do verão, em períodos de oito a doze anos, com o cuidado de não danificar a casca interna a partir da qual a cortiça regenera e da qual depende a sobrevivência da própria árvore.

A primeira referência ao uso de cortiça como vedante é do século V a.C. (ânforas gregas tapadas com tampas de cortiça), embora seja nos séculos XVII e XVIII que se vulgariza o uso de rolhas de cortiça para tapar garrafas de vidro. No entanto, Teofrasto (372 a.C. — 287 a.C.) já se refere à extração de cortiça como uma atividade habitual no seu Historia plantarum

[Tratado sobre a História das Plantas].

Atualmente existem 2 milhões de hectares de montado no mundo. A maior parte está em Portugal (Ceballos et al, 2001).

Um facto geralmente desconhecido é que a estrutura celular dos seres vivos foi descoberta através da observação da cortiça pelo naturalista inglês R. Hooke, em 1667.

A madeira do sobreiro é de cor parda ou avermelhada, com raios medulares bem marcados, muito dura, pesada e resistente. É usada para fabricar ferramentas em carpintaria e construção naval (para criar a estrutura de embarcações pequenas e médias).

Bibliografia:
González, G.A.L, 2013. Guia de los árboles y arbustos de la Península Ibérica y Baleares. 3ª edición. Ed. Mundi-Prensa. 894pp.
Villén, A.R., 2010. Senderos entre los árboles. Alymar Ediciones. 384pp.
Ceballos, L., Córdoba, F., de la Torre, J.R., 2001. Árboles y arbustos de la España peninsular. Editora Fundación Conde del Valle de Salazar. 512pp.