As árvores estão, desde longa data e em distintas culturas, associadas a deuses e atos sagrados. Os Gregos (e depois os Romanos) tinham uma árvore consagrada a cada deus. Zeus, o grande deus do Olimpo grego, tinha sob sua proteção os carvalhos (Quercus). Mais tarde, na cultura Romana, os carvalhos foram consagrados a Júpiter (Segura & Torres, 2011).
Convém saber que no passado, a designação Quercus era única e usada para abarcar carvalhos e azinheiras. Assim, a interpretação atual de textos antigos não permite uma total desambiguação quanto à espécie referida (Villén, 2010).
Sobre os Quercus e as suas principais caracteristicas reproduzimos uma história que lemos recentemente em “Senderos entre los árboles” (Villén, 2010), e que nos pareceu muito curiosa…
Há muitos anos quando os céus andavam muito ativos a criar deuses das formas mais criativas e os homens ainda não existiam na terra, os carvalhos já cá estavam e formavam apenas uma ‘espécie’ (azinheiras, carvalhos e sobreiros).
Nessa época, Rea, a mulher de Cronos, rei dos deuses, ficou grávida pela sexta vez. Todos os anteriores filhos de Rea tinham sido devorados à nascença pelo próprio pai – Cronos – que não queria ser destronado pela sua descendência. Desta vez Rea fugiu para a floresta e deu à luz Zeus, que escondeu debaixo de um frondoso carvalho, de forma que Cronos não se apercebesse de nada.
Zeus cresceu, fez-se adulto e acabou por destronar o pai e tornou-se senhor do Olimpo. Muito agradecido à árvore que lhe deu abrigo na sua infância tornou-a ainda mais bela e frondosa e permitiu que passasse essas características a todos os descendentes.
Os homens, que por esta altura apareceram na Terra, viram nesta árvore um ser tão belo e perfeito que acharam que era a manifestação de um ser supremo. Chamaram-lhe Quercus e começaram a adorá-la.
Os deuses menores, ciumentos da atenção dos homens, sentiram-se ameaçados por esta adoração às árvores e instigaram os gigantes, que naquela altura ainda dominavam a Terra, a asfixiar as árvores com as suas enormes mãos. Elas resistiram a este ataque desenvolvendo espinhos nas suas folhas. Os gigantes, furiosos, tentaram arrancá-las com a sua enorme força – e as árvores desenvolveram e aprofundaram mais as suas raízes no solo. Depois tentaram cortá-las com enormes machados e elas tornaram-se mais duras e sólidas. Os gigantes e os deuses menores estavam já a perder a paciência…
Aproveitaram a distração de Zeus para lhe roubar vários dos seus raios e provocar um grande incêndio que abrasasse de vez as predestinadas árvores. E mais uma vez, um grupo destas árvores protegeu-se deste ataque criando uma espessa camada protetora no seu tronco. E isto já foi demasiado para os enciumados deuses. Idearam então um terrível castigo para as árvores: ensinaram os homens a tirar-lhes a pele e a beneficiar do seu uso.
Quando Zeus finalmente se apercebeu do que se passava decidiu usar de todo o seu poder. Chamou Hércules, matou os gigantes, castigou os deuses malvados, enviou água para apagar os fogos e colocou sob sua proteção os carvalhos e as azinheiras. Quanto aos sobreiros, quando os viu com a pele arrancada achou que não sobreviveriam e deixou-os à sua sorte.
Hoje em dia, reza a estória, todas estas espécies são robustas e têm raízes profundas e bem desenvolvidas desde o ataque mandatado pelos deuses. Também por isso, os carvalhos preservaram as marcas dos dedos dos gigantes no bordo das suas folhas, as azinheira têm folhas com espinhos e os sobreiros têm cortiça (suber) que continua a ser amplamente usada pelos homens.
Bibliografia:
Villén, A.R., 2010. Senderos entre los árboles. Alymar Ediciones. 384pp.
Segura, S. & Torres, J., 2011. Las plantas en la Bíblia. Ed. Universidad de Deusto & Consejo Superior de Investigaciones Científica. 384pp.
Texto: Marta Pinto