Hoje em dia as rolhas de cortiça fazem parte do nosso quotidiano. De certeza que você já sabe que a origem da rolha de cortiça é o súber, um tecido vegetal morto, de proteção mecânica, que se encontra em torno ao tronco do sobreiro (Quercus suber). Também já deve saber que esta camada de súber pode atingir os 20 cm de espessura e resulta de uma adaptação do sobreiro ao fogo.
Apostamos que também já é do seu conhecimento que Portugal é o maior produtor e transformador de cortiça do mundo (Pausas et al, 2009).
O que podemos arriscar que você ainda não sabia – e nós também não até investigarmos um pouco mais :) – é que a rolha de cortiça para utilização em garrafas de bebidas alcoólicas foi inventada por um monge que se chamava Pierre Perignon, no século XVII.Pois é, este abade da abadia beneditina de Hautvillers, na região de Champagne, começou por inventar nada mais nada menos que o método champenoise de dupla fermentação. A grande quantidade de gás do produto exigia medidas drásticas e por isso criou uma nova garrafa de paredes mais grossas. Mas isso não bastava. Era preciso também encontrar uma forma inovadora de selar este contentor.
Pelos vistos a solução veio quando alguém fez chegar a Pierre um bocado de cortiça. Ele percebeu que, depois de fervido e enquanto quente, este material era flexível e macio e usou-o para tapar as suas garrafas de paredes reforçadas. Prendia as rolhas com arames para ajudar à sua fixação. Quando a cortiça arrefecia selava perfeitamente a garrafa: conservava-se o conteúdo e não
deixava escapava o gás do champanhe.
Este obstinado abade inventou assim o champanhe (o famoso D. Perignon!), a garrafa do mesmo e a rolha tal como a conhecemos hoje.

As árvores tal como são mais uma vez estão na nossa vida. Se não fosse o sobreiro talvez não houvesse champanhe.

Texto de Marta Pinto com recurso às principais fontes:
Miguel Herrero Uceda, 2005. El Alma de los árboles. Ed. HEDRAS. 301 pp.
Juli G. Pausas, João S. Pereira, and James Aronson, 2009. The Tree. In Aronson et al. (eds) 2009, Cork Oak Woodlands on the Edge. Island Press.